A mídia é uma das maiores apoiadoras da Lei Seca, sempre a destacar possíveis falhas na fiscalização e a defender maior punição a quem dirige sob influência de álcool, ainda que não cause o mínimo risco de acidente.
Como exemplo, as reportagens de capa do Correio Braziliense do último domingo: "Jovens desafiam o perigo e assumem volante após consumir bebibas alcoólicas" e "Jovens embriagados ao volante são flagrante de pura irresponsabilidade".
Não se vê, contudo, por parte da imprensa, a mesma coerência e igual desejo de punição diante de outras condutas tão ou mais perigosas à segurança no trânsito que o consumo moderado de álcool. Reportagem de Marcelo Monteiro para o Caderno Brasília do jornal Hoje em Dia ** de 21/1 abordou o costume de dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo.
Em apenas 30 minutos, em um único cruzamento de Brasília, a reportagem flagrou 47 condutores conversando ao celular e dirigindo, média de um a cada 38 segundos. Nenhum motorista foi punido e, se fosse, estaria sujeito a receber quatro pontinhos na carteira e uma multa de R$ 85, reduzida a pouco mais de R$ 60 se paga até o vencimento.
Mas as duas condutas são igualmente perigosas? Segundo o Hoje em Dia (vide quadro), um estudo do Reino Unido concluiu que "os condutores que falam ao telefone celular enquanto dirigem correm mais risco de causar acidentes do que condutores alcoolizados (...) o tempo de reação de quem conversa no celular é 30% menor que o de alguém que está bêbado".
Para a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, "a combinação entre celular e direção amplia em 84% o risco de acidentes". E mais, segundo um instituto norteamericano, "o ato de receber ou enviar mensagens prejudica em até 91% as reações do motorista no que se refere ao controle do veículo".
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* O título desta postagem foi uma provocação. Não defendemos a prisão para quem usa o celular e dirige ao mesmo tempo, assim como somos contra a detenção de quem assume o volante após consumir pequena quantidade de álcool e não coloca em risco a vida de ninguém. Sobre o tema, indicamos o artigo "Direção e álcool não podem banalizar Direito Penal", do advogado Pierpaolo Bottini, publicado na Folha de S.Paulo de 26/12 passado.
** O Caderno Brasília é um encarte do jornal Hoje em Dia, distribuído gratuitamente em restaurantes, hotéis e bares de Brasília. Não conseguimos localizar a reportagem na internet.
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